terça-feira, 17 de novembro de 2015

Chaves e o Purgatório: o mistério por trás do seriado

Quando criança, eu sempre assistia o Chaves e, como muitos de minha geração, crescemos assistindo, rindo e nos divertindo com o seriado. Embora qualquer episódio de Chaves tenha piadas tão simples e pitorescas e mesmo já tendo assistido todos os episódios várias vezes, qualquer um de nós, se assistirmos de novo, vai se divertir de novo.
Por que Chaves é tão cativante? Qual seria a verdade por trás deste épico seriado de comédia? Existe uma teoria no mínimo perturbadora sobre o seriado Chaves, um dos maiores sucessos da TV de todos os tempos.
O falecido Roberto Goméz Bolaños, criador de Chaves, era fascinado por temas místicos, como céu, inferno e purgatório. E teria mesmo inserido suas ideias místicas no seriado Chaves.
Pretensões sinistras no nome do seriado, enredo, cenário e no próprio personagem principal
Segundo a teoria, os personagens de Chaves já estariam mortos (mas não sabem), e cada um deles estaria vivendo seu próprio pecado eternamente e que a vila onde moram seria uma espécie de “cela do inferno” ou um pequeno purgatório. O que reforça esta teoria é o nome original da série, “El Chavo del ocho” – O moleque do oito, pois Chaves na verdade não mora no barril, mas sim no apartamento numero oito. O que não se sabe é com quem ele mora. O que pouca gente sabe é que no México a palavra “chavo” é frequentemente usada de forma negativa, relacionada sempre a moleques travessos e arteiros. É por isso que em todos os episódios são repetidas as frases “Tinha que ser o Chaves mesmo!” e “Ninguém tem paciência comigo”.
Mas o que chama a atenção é que o numero oito (8) além de estar presente no titulo original do seriado, é referenciado várias vezes ao longo dos episódios. O mistério por trás disso é que o número oito geralmente é associado à eternidade. A pequena vila onde os personagens moram, portanto, seria um lugar de eternidade, onde eles estariam condenados para sempre e sofrendo as mesmas punições, ainda que de formas variadas.
A série teria tido todo este sucesso por conta de sua qualidade ambígua: de um lado cada personagem repete “eternamente” seus pecados capitais; do outro ninguém demonstra o menor respeito pela Ordem, seja de Deus ou do Diabo. Por exemplo, toda vez que o Seu Barriga vem cobrar os aluguéis, ele é atingido por alguma coisa, sempre pelas mãos do “Moleque – Chaves”. Ou quando Dona Florinda diz que somente estudando as crianças poderão ficar igual ao Professor Girafales, elas imediatamente fecham os livros que estavam lendo.
Cada personagem é escravo de um dos sete pecados capitais
A Gula
Chaves é o moleque que está sempre faminto. Em vida, teria sido um verdadeiro glutão, pecando constantemente pela gula, e que agora, depois de morto, sua alma estaria sofrendo a condenação eterna da fome. Mais ainda, é notável a sua preferência pelo sanduíche de presunto, que parece querer lidar com esse simbolismo do porco do excesso – opulência, sujeira e teimosia – tudo aquilo que faz deste menino um personagem adorável.
A Preguiça
Seu Madruga
 é um homem constantemente consumido pela preguiça. Nunca tem vontade de trabalhar e foge sempre das cobranças de aluguel do Seu Barriga. Em um dos episódios, ele chega a dizer de forma melancólica: “Não existe trabalho ruim. Ruim é ter que trabalhar”. A sensação de repetição eterna é ainda bem mais notável nestes dois personagens – Seu Madruga e Seu Barriga – pois a cobrança é sempre pelos quatorzes meses de aluguel que Seu Madruga lhe deve.
A Avareza
A ganância em cobrar diariamente o aluguel mensal está explícito no Seu Barriga. É o dono da vila, rico e mesmo assim todos os dias vêm cobrar seus aluguéis, é claro, sempre das mesmas pessoas. Como já mencionamos, Seu Barriga sofre repetidamente a cada episódio, sempre vítima dos golpes de Chaves, armadilhas, acidentes e desventuras todas as vezes em que se atreve a entrar na vila com sua pasta de documentos e cobranças.
Inveja e orgulho
Quico, Dona Florinda e Professor Girafales estão dominados pelos pecados da luxúria, inveja e orgulho. Representam claramente uma classe média que não quer se misturar com os pobres; daí a frase “Vamos tesouro, não se misture com essa gentalha”. Quico está sendo punido pelos pecados do orgulho (pois tem os melhores brinquedos para não se confundir com a “gentalha”) e da inveja, porque percebe que seus amigos pobres conseguem ser felizes com seus brinquedos surrados, enquanto ele nunca está satisfeito com os seus.
A Luxúria
Enquanto isso, Professor Girafales e Dona Florinda “queimam” num desejo nunca satisfeito. Dizem que eles teriam sido libertinos em vida, insaciáveis na busca pelo prazer (luxúria), e agora são condenados à abstinência sexual por toda eternidade: seus encontros nunca se concluem. Pior ainda, tomam inacabáveis xícaras de café, um estimulante que aguça ainda mais o sofrimento da mente que arde de desejo e o corpo que parece não querer acompanhar.
A Vaidade
Dona Clotilde
, a “bruxa do 71”, cujo gato de estimação chamava-se Satanás (visto somente em um dos devaneios delirantes do Chaves). A personagem da Bruxa do 71 é ironicamente feita por uma ex-miss, a espanhola atriz Angelina Férnandez, com sua peruca azul e vestido longo. Segundo a teoria, Dona Clotilde vivera uma vida toda preocupada com sua aparência, sempre procurando ficar cada vez mais bonita e chamativa, tendo como deus o seu próprio umbigo. Agora, na “vila dos sofrimentos”, ela não passa de uma velha constantemente ofendida por todos por sua feiura, além de ser obcecada por Seu Madruga, um dos que mais lhe ofende por causa da aparência.
A Ira
Enfim, Chiquinha padece da ira com seus chiliques e choros compulsivos ao ter consciência da sua impotência; quando quer ferrar com seus amigos, inventa diversas acusações contra eles, das mais exageradas. Intolerante e raivosa, ela atropela pés e brinquedos com seu triciclo. Chiquinha parece possuir uma alma de dragão enfurecido, encerrada eternamente em um corpo de criança como punição por malcriações feitas quando viva.
Há ainda outro intrigante personagem, o carteiro Jaiminho. Ele sempre chega todo feliz, sem nenhum tipo de problemas aparentes (exceto pela exaustão em ter vindo de uma terra distante com sua bicicleta), falando sempre bem do lugar de onde ele vem,Tangamandápio. Alguns acham que Jaiminho seria um anjo (por isso a ideia de um carteiro, ele entrega mensagens – anjo significa “mensageiro”) e que Tangamandápio seria o céu.
A verdade, é que Jaiminho sempre aparece para falar bem de sua (distante) terra, afim de provocar as almas condenadas dos demais moradores da vila.
Há também uma cena curiosa por demais: num dos episódios do restaurante de Dona Florinda, Jaiminho está segurando o cardápio e nele, claramente, o Olho de Hórus.
horus
Depois dessa viagem toda, você seria capaz de acreditar que tudo não passa de mera coincidência?

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